Das 2,6 mil casas prometidas para a cidade de Palmares, durante a Operação Reconstrução, menos de 5% já foram realmente construídas até o momento. Além disso, boa parte dos moradores de construções ribeirinhas está voltando aos imóveis já condenados, expondo-se a riscos potenciais de uma tragédia recorrente. As denúncias são do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA-PE), expostas durante o Seminário Desastres Naturais – Técnicas de Prevenção, realizado na Universidade de Pernambuco (UPE). Nesta terça-feira (15), um dossiê contendo as principais conclusões de uma equipe de 50 profissionais de diversas áreas que inspecionaram a cidade da Mata Sul do estado será entregue ao prefeito José Bartolomeu de Almeida Melo, às 9h.
De acordo com o presidente do CREA-PE, José Mário Cavalcanti, a proximidade do período de chuvas em Pernambuco preocupa, em especial, pelo fato de que as obras estejam aquém do esperado para o mês de março, fruto de uma execução mais lenta que o planejado. “Temos que chamar a atenção para o fato de que a recuperação não termina no atendimento à emergência. O caminho ainda é longo e demanda atenção”, afirma. Entre os pontos apresentados no estudo, estão a planta de venda de toda a área da cidade, localizada a menos de 200 metros do curso dos rios, onde o risco é iminente.
Entre as experiências apresentadas no seminário, um dos modelos que devem servir de referência para o gerenciamento fluvial e de enchentes no estado é o adotado no estado da Saxônia, na Alemanha. Segundo o professor da Technical University of Dresden Jürgen Stamm, desde 2002, quando o estado já sofria com constantes inundações, foram investidos 9 bilhões de euros (R$ 20 bilhões), 600 milhões apenas em construções ao longo dos rios, como barragens, para evitar possíveis destruições causadas pela água. “O que vi aqui (em Palmares) foi uma situação semelhante, mas com o detalhe de haver uma grande destruição da vegetação e da própria terra. É necessário desenvolver mais estratégias de administração de riscos para contornar o problema e, em especial, investimentos, uma vez que o valor demandado para priorizar o desenvolvimento deve ser proporcional ao da deficiência verificada”, explica.
Planos não faltam para contornar a situação. Somente na bacia do Rio Una, a pretensão é construir sete barragens, que devem conter o fluxo de água em casos de precipitações inesperadas e com grandes volumes. Além disso, desde o início de março, sensores automatizados foram instalados na bacia e devem, ainda este mês ser implantados nos demais rios do estado.
Os equipamentos servem para detectar, em tempo real, a variação de altura da lâmina d’água e emitem alerta de evacuação em caso de necessidade, um investimento de R$ 1 milhão que substitui a antiga medição por réguas feita manualmente. “Uma central de comando, interligada aos sensores, radares e recursos de telefonia do sistema, recebe os dados em tempo real dos equipamentos, de forma que podemos emitir alertas às cidades com muito mais propriedade, rapidez e, em especial, segurança”, explica a Diretora de Regulação e Monitoramento da Agência Pernambucana de Água e Clima, Suzana Montenegro.
Previsão de chuvas - Para completar a preocupação, Pernambuco pode voltar a sofrer com fortes chuvas antes mesmo do início do inverno deste ano. Na maior parte do estado, com exceção do Sertão do São Francisco, os índices pluviométricos dos meses de março, abril e maio devem se manter ou exceder a média histórica. O grande problema é que, com o atual comportamento do oceano e dos ventos, o período deve ser marcado por chuvas episódicas, ou seja, boa parte da quantidade de chuvas esperadas para o mês deve ser precipitado em apenas algumas horas.
De acordo com a coordenadora do Lamepe, Francis Lacerda, nas áreas do Pajeú e Moxotó, numa faixa que vai do sertão ao Agreste Meridional, a previsão é de que o índice pluviométrico varie entre 100 e 400 milímetros. Na Zona da Mata e Litoral, onde a média é de 650 milímetros, ele pode chegar a 800 milímetros“. A grande preocupação é com os chamados nanoverões, ou seja, épocas de estiagem marcadas por chuvas episódicas.
Resposta - Em nota divulgada na tarde desta segunda-feira, a Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab) informou que todos os projetos para construção das 2,6 mil unidades habitacionais em Palmares, na Mata Sul, estão em execução, seja em fase de terraplenagem ou de construção das unidades habitacionais. A Cehab ainda informou que dois terrenos onde serão erguidas 1.907 casas estão em processo de terraplenagem e outras 703 moradias estão em fase de construção (alvenaria). As primeiras 300 têm previsão de entrega para esse primeiro semestre e as 400 restantes até o final do ano. Incluindo Palmares, estão em curso a terraplenagem para construção de 4.4 mil unidades habitacionais em Barreiros, Água Preta e Maraial.
Por Ed Wanderley
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/vidaurbana/nota.asp?materia=20110314135239