quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Professor da Universidade Federal Fluminense analisa o que é preciso fazer para ter uma defesa civil operante e aplicável


O coordenador do único mestrado em Defesa e Segurança Civil do Brasil, Airton Bodstein, considera o seu envolvimento com a área uma missão. Na infância, sonhou em ser médico, bombeiro e militar, mas foi na vida adulta que descobriu que poderia atuar junto a esses profissionais trabalhando questões de defesa civil. Esse foi um longo caminho. O gosto pela química o fez optar por Farmácia na graduação. Após o doutorado, passou a trabalhar a questão da água e sustentabilidade. Foi no desenvolvimento do Programa Managé, em que trabalhava a gestão de uma bacia hidrográfica no Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, que passou a conviver com o problema de enchentes e teve seu primeiro contato com a defesa civil. Com formação no Brasil e no exterior, o professor tem um amplo conhecimento em defesa civil. Já foi chamado para auxiliar na implantação de um sistema em Moçambique, dá aulas na França e no Brasil, participa de discussões em nível governamental. Nessa entrevista, fala de suas experiências e dos problemas enfrentados pela defesa civil no país. "Eu quero contribuir para a mudança no sistema", garante o professor, que une teoria e ações concretas.

Como o senhor avalia o sistema de defesa civil hoje no país?
Eu vejo a questão da defesa civil no Brasil hoje como a do Meio Ambiente 20 anos atrás. Tínhamos uma legislação muito boa, mas não era aplicada. Não havia fiscalização, multa, conscientização. Então, ficava no papel. A defesa civil está nesse nível. Possui um arcabouço legal interessante e um sistema tecnicamente bem elaborado, mas ele não é aplicado. A grande gravidade é que não há capilaridade. Esse sistema não chega ao cidadão, que não é chamado a participar e só ouve falar disso na hora do desastre. O sistema de defesa civil trabalha o tempo todo em resposta, e a reconstrução é parcial. Está muito frágil ainda, longe de ser operante e aplicável. 

As comunidades são preparadas no Brasil para o gerenciamento de riscos?
Essa preparação não existe. Primeiro você precisa classificar a população em níveis de sensibilização. Uma população que sofreu o sinistro é mais sensível. Aquela que viu de perto, com um vizinho ou parente, também tem uma sensibilidade maior. Tem gente que nunca sofreu desastre e acha que nunca vai acontecer com ele. Há ainda os que são bem informados, mas não respeitam. O brasileiro não tem cultura de prevenção. Precisamos de uma cultura brasileira de prevenção de desastre. Todos têm que estar envolvidos: imprensa, o governo estadual, federal e municipal, ONGs. Mas nossa cultura tem três premissas que trabalham contra isso. "Deus é brasileiro", então se a maior entidade é brasileira, eu não preciso me preocupar com nada. Se Deus descansar e bobear, "o jeitinho brasileiro vai resolver", o que é uma desvantagem, pois é improviso, não é profissional. E o terceiro é se nada der certo, "foi fatalidade, Deus quis assim". Temos que trabalhar as pessoas. Uma grande ação de prevenção, na verdade, parte do próprio cidadão, do comportamento e da percepção dele. E isso não é só frente a grandes desastres, mas também a acidentes domésticos. Temos que criar uma cultura.

Qual o caminho para isso? 
Temos que começar a criar campanhas nacionais para a prevenção a desastres e acidentes, trabalhar nas escolas, usar imagens fortes em certos momentos.

Fonte:http://www.revistaemergencia.com.br/site/content/materias/materia_detalhe.php?pagina=1&id=AJjg

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